segunda-feira, julho 16, 2007

Vivendo um Rascunho



Entra ano, sai ano, entra ano, sai ano e entre meio tantos desejos, há sempre quem deseje a todos uma vida passada a limpo. Parei para pensar sobre isso várias vezes e me culpei terrivelmente por não ser um exemplo de organização. Assim, passei a me policiar e me culpar pelo que havia feito. Vai que em um dia qualquer chegue a minha vez de bater as botas e deixarei minha vida virada de cabeça para baixo, com tarefas a serem feitas, palavras a serem ditas, amores secretos, desejos infames, angústias, momentos íntimos, tudo ali, misturado, um por cima do outro, algumas passagens simplesmente rasuradas. Vi-me em um beco sem saída. E agora, José, quem vai terminar o que comecei e não fiz direito?

Acidentalmente, hoje remexi em uns arquivos antigos no meu computador e encontrei um com o título “rascunho”. Era o relato do meu aniversário de 26 anos, o qual comemorei antecipadamente em família e ao final do encontro me senti como se tivesse querido adiantar o relógio pela incerteza de nem estar aqui no dia certo. Não cheguei a reler o que escrevi, até porque nunca cheguei a terminar a história, mas me deu clique na hora.
Lembrando disso e de muito mais, decidi por não passar a limpo minha vida. Sábia decisão. Para admiradores de boas obras, é sabido que um original é sempre mais valioso, pois contém informações que às vezes são lapidadas para o agrado do público. Alguns escritores de renome se reservam o direito de alterarem suas obras de edição para edição se necessário, o que comprova que uma obra nunca chega de fato ao ápice da perfeição. A perfeição, para mim, é sem sal e sem pimenta. Coisa de quem sofre de pressão alta.
Eu sofro de desorganização, de uma vontade imensurável de fazer quinhentas mil coisas em um minuto só e, portanto, não deixar uma vírgula fora do lugar ou esquecer de fazer um parágrafo, colocar reticências onde deveria estar um ponto final é quase impossível... Hei de fazer tempo para tudo e para todos, mas não hei de ser perfeita. Hei de ser intensa, original, autêntica. Quero um rascunho de vida, onde se possa ler o meu passado negro e a vida laranjada que pinto todos os dias, assim como aquela cor-de-rosa que me virá em um futuro não muito distante.

Quero que meus leitores tenham vasto trabalho ao estudar minha obra de vida e que se vejam em encruzilhadas ao ler meus pensamentos, não por serem difíceis, mas por conterem em si possibilidades diversas. Deixarei minha obra mais rica: um rascunho do que sou com tudo de bom e de ruim, pois o que é perfeito jamais foi visto, embora tenha se ouvido falar.

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