Foram apenas três encontros em dez meses. Minha mais nova meta agora é fazer com que esses encontros sejam mais freqüentes!
Nunca tive amizade com vizinhos em lugar algum, devido à educação rígida que meus pais me deram. Eles diziam que eu tinha minha própria casa e isso era motivo suficiente para eu não ficar perambulando pela casa dos outros. E foi assim mesmo. Acabei me tornando uma pessoa extremamente tímida, que não era nem capaz de cumprimentar as pessoas que eu via diariamente, exceto pelos meus amigos da escola. O tempo foi passando e com muito esforço eu consegui aprimorar minhas técnicas de relacionamento, mas ainda não atingi a perfeição. Reconheço, porém, que hoje eu estou muuuuuuuuuuito melhor!
Mudei para meu atual endereço em outubro do ano passado e tenho morado absolutamente sozinha desde então. Nem mesmo um cachorro eu tenho e não é por falta de vontade, mas sei que não seria bom para meu cusquinho ficar sozinho o dia todo, visto que basicamente só estou em casa para dormir e fazer faxina. Lembro de uma tarde estar chegando na entrada do condomínio e ver um rapaz saindo lá da garagem. Ele foi andando, andando, andando e eu sempre atrás... porque meu prédio é o último. Para minha surpresa, ele entrou no meu prédio e omeçou a subir as escadas. Aí então ele virou prá trás, me disse um oi e me deu um largo sorriso. Eu fiquei no segundo andar e ele continuou subindo. Imagem divina. Por alguns dias eu fiquei torcendo para esbarrar com ele de novo e ver se ele me dava outro sorriso, mas isso não voltou a acontecer, nem ele, nem o sorriso.
Acabei esquecendo. Não vivo olhando para os lados, nem fico tentando fazer amizade o tempo todo. Conheço algumas pessoas de vista lá no condomínio, mas não tenho intimidade com ninguém, não sei da vida de ninguém, não converso com ninguém.
Ontem, depois de tantos meses, vi alguém que chamou minha atenção. Eu estava na garagem, me despedindo de uma amiga, quando saiu um moço de um carro e eu fixei meus olhos nele de uma forma que fez com que ele me cumprimentasse à distância. Eu estava forçando meus olhos para conseguir enxergar quem era, mas estava sem óculos e não consegui ver mesmo. Ele saiu dali a passos lentos e nada da minha amiga tirar o carro da garagem. E eu ali, ansiosa, querendo ver aonde o moço ia, mas não podia porque precisava abrir o portão com o controle. O carro finalmente sai da garagem, mas muito tarde, pois ele já tinha desaparecido. Fui andando em direção ao meu bloco e para minha grande felicidade, ele estava subindo os primeiros degraus. O bom cavalheirismo fez com que ele descesse, abrisse a porta e me cumprimentasse. Flashback. Era ele o moço que eu tinha visto no ano passado! Era ele, era ele! Trocamos algumas palavrinhas sem importância , eu fiquei no segundo andar, abri a porta, fechei, chaveei, deschaveei. Voltei ao corredor. Ainda pude ouvir seus passos. Acho que ele mora no andar de cima. Fiquei por alguns minutos ali, no escuro, tentando decifrar os ruídos que vinham do andar superior. Ele abriu a porta, fechou e chaveeou. Acendeu as luzes e deu alguns passos. Acho que o apartamento estava vazio. Talvez ele também more sozinho. Se tivesse alguma companhia, ela já deveria estar lá, pois já era bem tarde.
Voltei feliz para minha casinha. Jantei, tomei banho, falei ao telefone, entrei na net, organizei o quarto a ser pintado. Fiz tudo isso sorrindo, pensando no vizinho... Logo eu, que nunca me aproximei de vizinho algum, agora estou aqui, que nem um piá esperando a vizinha boazuda trocar de roupa na frente da janela. Ele é um TESÃO. Não me refiro só ao seu porte físico, aliás, ele nem é gordinho, nem careca. Quem me conhece sabe que eu tenho uma queda por homens "fofinhos e confortáveis" e que nunca me importei com pouca quantidade de cabelo. Mas esse vizinho é magro, mais ou menos "uma cabeça" mais alto que eu, pele clara, cabelos e olhos escuros, sorridente e simpático. Pena que não consegui sentir se ele é cheiroso. Um homem bem perfumado é quase tudo.
Hoje eu deveria trabalhar na parte da manhã, então quando eu deitei já sabia que acordaria com aquela cara amassada, não teria tempo suficiente de me arrumar, sairia com pressa e provavelmente não estaria de muito bom humor. Fui até a cozinha amornar o leite para não sair de barriga totalmente vazia e acabei lembrando da minha colega de trabalho, que normalmente quando alguém lhe diz "bom dia" no trabalho, ela pergunta "Bom dia por que?". Ri sozinha, imaginando fazer a mesma coisa quando eu chegasse na escola.
Chegou a hora de sair para pegar o ônibus. Escovei os dentes, amarrei o cabelo de qualquer jeito, coloquei um tênis, camiseta, peguei minha sacola de bugiganga e saí. Começo a descer as escadas, escuto passos, abro a porta para sair do bloco e seguro para a pessoa que estava vindo atrás de mim. Que visâo do paraíso. E eu, feito uma bruxinha, descabelada, desarrumada, sem maquiagem nenhuma, cheia de vergonha, porém, perfumada... Era ele... me disse aquele bom dia sorridente eu lembrando dom "Bom dia por que?". Seria muita grosseria da minha parte. Consegui sorrir de volta e emendar com uma piadinha "Como você consegue estar tão feliz e sorridente a essa hora da manhã?" Caminhamos um pedaço juntos, e na despedida, ele me desejou um bom dia... Desde então ainda não pus meus pés no chão. Estou voando prá láááááá, prá cáááááá,
prá lááááááá, prá cáááááá...
Quando será nosso próximo reencontro?
Agora pelo menos eu já sei o horário que ele sai para o trabalho.
Me desejem boa sorte...
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