terça-feira, março 20, 2007

Eu lavo as minhas mãos!




Exatamente por lavar as mãos é que eu consegui me tornar a maior suspeita de algo que definitivamente não fiz!



Uma das partes mais prazerosas da minha rotina diária consiste de uma longa caminhada que me leva do trabalho até a faculdade. Poderia simplesmente tomar um ônibus e chegar bem mais cedo ao meu destino, no entanto, tanto bem me faz tal caminhada que prefiro seguir com ela.


Carrego comigo uma bolsa (que está sempre cheia), meu material escolar e quinhentos mil pensamentos sobre o que fazer, dizer, comprar etc e após uns bons quarenta minutos de exercício físico e mental, finalmente estou dentro da faculdade. Depois de todo o trajeto, nada melhor que sentir minhas mãos limpas, sem aquele suor ou poeira que fui agregando, pouco a pouco, pelas ruas.



O banheiro feminino do quarto andar deve ter apenas dois metros quadrados, ocupados por dois vasos sanitários, uma pia e a porta, que por ser aberta o tempo todo parece uma peça a mais dentro do cubículo. Há de se levar em conta que a maioria dos estudantes do referido andar é do sexo feminino, pois é lá que as aulas do curso de Letras são ministradas.


Pois bem, voltando ao assunto, me dirijo diretamente ao banheiro e, quando abro a porta surpreendentemente não encontro ninguém, mas os vestígios de alguém que saiu dali há pouco tempo. Subitamente, alguns pensamentos críticos surgem e pergunto à mim mesma se a possibilidade de ter um desodorizador de ar disponível para uso coletivo seria muita extravagância para banheiros em universidades. Aí, logo penso para quê serviria continuar sonhando com o “supérfluo” se ainda secamos as mãos com papel higiênico no lugar de toalhas de papel. Volto ao pensamento do ar infectado e chego a conclusão de que um spray apenas serviria como um disfarce para o que já estava ali, fosse o que fosse. Tudo isso em uma fração de segundos, enquanto eu abria a torneira e molhava as mãos, numa concentração transcedental para ignorar o odor.


Justamente na hora em que fazia isso a porta se abriu e percebi, pelo reflexo do espelho, um par de olhos aflitos me olhando fixamente por detrás das minhas costas. Me olhou profundamente nos olhos enquanto a tentativa de um balbucio qualquer se tornava cada vez menos audível em meio a expressão que transparecia em seu rosto.


Imagino que essa criatura, antes de fechar a porta em dois segundos apenas, ao ver meu rosto pelo espelho enquanto eu inocentemente lavava as mãos, deve ter pensado em todas as combinações possíveis do meu cardápio diário para que tivesse obtido todo aquele resultado.




Enquanto eu, eu apenas lavava as minhas mãos...

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