segunda-feira, janeiro 22, 2007

Cala a boca, Magda!!!


Harvard Square, 2002
Cambridge, Massachusetts.

A Jasmine Sola foi um dos locais onde mantive um emprego estável por um período de aproximadamente dezoito meses e ficava na Brattle Street, junto à Harvard Square.
Eu era só mais uma entre um punhado de outros brasileiros ilegais que trabalhavam ali, na sua maioria de Minas Gerais.
Durante o tempo que permaneci nessa loja, trabalhei como estoquista, assistente de Recursos Humanos, caixa e vendedora. Conheci muita gente ali, entre clientes e colegas de trabalho, de quem guardei muitas histórias, situações tensas e embaraçosas e também, muitas gargalhadas.
Uma das pessoas com quem e de quem mais ri foi a Magda. Claro que esse não é seu nome verdadeiro, mas quem teve oportunidade de assistir ao programa Sai de Baixo, da Rede Globo, vai logo entender porque escolhi esse apelido para ela.
Magda nasceu em uma cidadezinha no interior de Minas Gerais e acabou parando no Rio de Janeiro com sua família. Ela nunca conheceu o pai, pois este teria dado no pé assim que soube da gravidez da namorada e se mudou para São Paulo, onde constituiu uma outra família anos mais tarde. A mãe de Magda se casou com outro e teve mais filhos.
Magda teve um namorado por alguns anos até que o encontrou de mãos dadas com uma outra menina. Anos de tratamento no psicólogo a ajudaram muito, mas sua síndrome de rejeição jamais desapareceu por completo. Ela era uma moça doce e carente, que raramente se concentrava no que lhe falavam ou no que falava aos outros, mudava de assunto num piscar de olhos.
Quando, por exemplo, alguém lhe dizia que seu cabelo estava bonito, ela sorria e dizia que sentia vontade de fazer um lanche no Mc Donald’s. Ela era assim mesmo, sempre no mundo da lua.
Na Jasmine também trabalhava o Baiano. Moço simpático e sempre de bom humor, havia entrados nos States graças a idade e nome adulterados. Era casado, galinha e guloso. Tudo o que se deixava no frigobar desaparecia num piscar de olhos quando o Baiano estava por perto. Em nenhuma das vezes conseguimos uma confissão de sua parte, nem mesmo diante de testemunhas.
Chico, na história de hoje, é meu terceiro personagem. Desse, realmente não lembro o verdadeiro nome, mas a imagem que guardei dele ainda hoje me enche de sorrisos e malícia.
Eu e Chico nunca trocamos mais que duas palavras, mas sei que ele sabia exatamente o que eu pensava e eu sabia o que ele pensava também. Cada uma das vezes que eu encontrei esse homem no caminho do depósito, eu fui capaz de derrubar todas as caixas de sapato que eu trazia, fossem elas dez ou apenas uma. Todas as vezes, sem exceção.
Chico era alto, forte, pés e mãos grandes, um rosto marcante e o dorso sempre suado, bermuda jeans surrada e o diâmetro de seus braços era maior que o das minhas coxas. Peão, usava uma linguagem própria e um charme que não se comparava com nada. Chegou aos Estados Unidos via México atrás de um irmão, que já estava em processo de legalização. Deixou para trás a esposa, a empregada amante e seu filho.
Em um dia qualquer, os horários de almoço dos meus três colegas coincidiram e foi na mesa do porão que Magda fez uma de suas maiores proesas como boa entendedora.
Baiano e Chico conversavam sobre suas vidas e dali tiravam algumas perguntas, respostas e reticências. Chico confessou que traía sua esposa e ainda assim reafirmava seu amor por ela. Magda, que já havia vivido a decepção amorosa de seus pais e a sua própria, se interessou pelo que o peão contava e pediu detalhes, pois não entendia porque ele havia traído sua esposa se realmente a amava tanto.
Chico usou o corpinho da empregada como escudo para seu ato de fraqueza, justificando a gostosura da menina e seus movimentos sexy enquanto colocava a casa em ordem. “E a sua esposa?”, perguntava Magda. A esposa trabalhava, dizia ele, e assim que ela deixava a casa, ele ia lá e pimba, passava o bife na empregada!
Foi o Baiano que me relatou essa conversa, com muita graça e precisão quanto à reação da pequena e inocente Magda, que ao ouvir sobre o bife na empregada, levantou-se de sua cadeira, pôs suas mãos na cintura e incrédula exclamava: “O quê, seu cachorro??? Além de trair a sua esposa com a empregada você ainda cozinhava para ela?!!”
Cala a boca, Magda...

Um comentário:

Anônimo disse...

Amooo suas estorias dos EUA!!! E vc tem razao, eh incrivel como tem mineiro por aqui... E mto goiano tambem!
Bjao!!
Vanessa