quinta-feira, agosto 24, 2006

Depois da depressão sempre vem o tesão


Que mulher pode dizer que nunca acordou num dia de TPM vendo tudo em preto e branco, se sentindo a mais miserável das miseráveis e, no próximo dia, despertou com uma energia sobrenatural, pupilas dilatadas e uma expressão arteira no rosto?

Ontem eu tratei minha esperada depressão com solidão pura. Sabia qual era a causa e que era passageira, por isso, tratei de ficar um pouco afastada, me impedindo, dessa forma, de maltratar alguém que não tinha nada a ver com o pato. As horas passariam dolorosa e lentamente, trazendo e carregando lágrimas de insatisfação pessoal, mas eu sabia que em determinado tempo isso teria um fim.

Hoje, no entanto, mesmo tendo saído atrasada de casa para o trabalho e tendo literalmente corrido para pegar o ônibus, eu fui acometida de uma incontrolável vontade de ter algo que eu não tinha no momento e as possibilidades de ter mais tarde me pareciam bem raras.

Todavia, ninguém nem nada neste mundo é insubstituível.

Minha alternativa mais coerente para suprimir minhas necessidades físicas me veio à cabeça com direito a ilustração. Era uma barra de chocolate de 200g, como aquelas que encontrávamos no supermercado há alguns anos atrás. Não sei porque raios as fábricas de chocolate passaram a produzir barras de 180g. Esses 20g que nos foram tirados equivalem a um bombom. Um bombom a menos às vezes faz uma diferença bem considerável.

Então, a opção chocolate estava aumentando minha ansiedade. Claro que teria sido bem mais simples, bem mais econômico e bem menos calórico se eu tivesse um namorado para quem eu pudesse rapidamente passar a mão no telefone e marcar qualquer coisa. Opção fora de cogitação.

Saí do trabalho no horário do almoço, depois de um farto prato de arroz, feijão e frango e me dirigi ao lugar mais próximo para comprar o tal chocolate. Chegando lá, me foram oferecidas aquelas barrinhas minúsculas, que quando você pensa em dar a primeira mordida se dá conta que já engoliu o último pedaço, sem sequer ter sentido o gosto. Tal quantia jamais seria suficiente para satisfazer a minha gula. Sorri com malícia ao pensar no meu ex-projeto de namorado enquanto fazia o trajeto que me levaria até a próxima lanchonete.

Lanchonete Antártida, na Rua Nereu Ramos, lá sim, sempre tem chocolate. Senti que algumas das pessoas que estavam almoçando me olhavam com aquele olhar acusador, como se já soubessem o que eu estava prestes a fazer. Me senti uma criminosa. Um criminoso, porém, jamais se sente culpado.

Parei na frente do balcão e questionei a atendente a razão por haver só dois tipos bem simples de chocolate disponíveis. Eu não queria qualquer chocolate. Meu plano era devorar vorazmente uma barra de chocolate ao leite com amendoim, aquele envolto num papel amarelo. Era aquele que eu queria para matar o meu tesão.

Tive que optar entre o chocolate branco e ao leite. Sempre preferi chocolate ao leite, contudo, certos momentos da vida precisam fugir de um padrão para se tornarem excitantes e completos. Abandonei, então, minha expectativa pelo papel amarelo e, entre minhas opções, escolhi a menos inusitada.

Mal deixei a lanchonete e meus dedos rápidos e indiscretos já estavam a procura de minha boca. Saciei o meu desejo ali mesmo, descaradamente, sem qualquer pudor. Ainda insatisfeita, lambi meus dedos com um prazer que só eu conheço. Olhei para trás e pensei comigo quantas daquelas pessoas que me assistiam atônitas gostariam de estar fazendo o mesmo.

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