quinta-feira, junho 22, 2006

Dia de jogo. Tudo parou.


Do terceiro andar da escola onde trabalho posso ouvir os gritos incessantes de meus colegas, que estão confortavelmente sentados na recepção assitindo ao jogo do Brasil. E eu, aqui, escrevendo para mim mesma, discutindo algumas idéias com meus dedos e este teclado. Fica claro aqui que agora são exatamente 4:40 da tarde e estou no meu recreio, caso algum dia minha coordenadora leia isso e pense que estava matando serviço.
Muitos funcionários da escola estão vestidos de bandeira. As ruas, vitrines, casas e bares estão decorados para a Copa do Mundo. Aulas foram canceladas. Os bancos alteraram o horário de expediente. Tudo está diferente porque a seleção brasileira está jogando. É lindo e emocionante ver tudo tão colorido, o povo com tanto orgulho de ser brasileiro. Mas, onde estiveram todos esses patriotas e todo esse patriotismo nos últimos quatro anos?
No primeiro jogo da copa, eu usei pink. No segundo, fiquei sozinha fazendo tricô em casa e usei uma blusa branca. Hoje estou de marrom. Na verdade esse é um pequeno protesto de minha parte. Nada contra quem está de verde e amarelo hoje, mas tudo contra quem só lembra que é brasileiro em época de futebol.
Nosso país é abençoado, é um lugar lindo, com tanta riqueza, tanta coisa boa. Nossa língua é linda. Nosso povo é lindo. Existem pontos negativos, sim, como em qualquer outro lugar, mas a gente não se "divorcia" de um país. Quem nasceu aqui pode morar uma vida toda na Europa, e adquirir a cidadania, mas nunca deixará de ser brasileiro, mesmo que jamais tenha aprendido a língua. Temos que ter orgulho do que somos. Temos que agradecer por não vivermos em guerra. Temos que agradecer pelos desastres naturais aqui serem bem poucos.
Por isso eu acho que verde e amarelo tem que ser exposto o ano inteiro.Também acho que deveríamos colocar esse orgulho todo em tudo o que fazemos.
Isso tudo me faz lembrar minha época nos Estados Unidos. A grande parte dos brasileiros que conheci durante minha estadia não faz planos de retornar ao Brasil para morar. Eles reclamavam disso e daquilo, cada um com sua razão. Passado algum tempo, bandeiras simplesmente "apareciam" em suas janelas, em seus carros, em suas roupas, em seus cadernos, em tudo. Eu não entendia aquilo. Talvez eu até entendesse, a gente acaba ficando homesick mesmo num país diferente, mas não concordava com aquele "amor instantâneo". (Mais uma vez o amor presente em minhas linhas... parece mesmo que não dá para eu fugir...) Até considereva falta de respeito de uma certa forma, pois os Estados Unidos deu à todos uma oportunidade que aqui eles não conseguiram. Era de lá, mesmo que burlando leis, que eles tiravam seu sustento e o de suas famílias que ficaram para trás, e ainda assim, esfregavam a bandeira brasileira no nariz dos americanos, em solo americano. Minha revolta por causa disso era tão grande e tão evidente, que meus amigos para me provocar me presenteavam com tudo o que era verde e amarelo. Até foto com bandeirinha na mão fui forçada a tirar.
E o que eu admirava tanto nos americanos, era justamente seu patriotismo. Eles AMAM ser americanos, AMAM falar inglês, AMAM tudo em seu país e para eles, tudo o que se faz lá é melhor porque foi feito lá, porque é deles. Prá quase todos lados que eu olhava encontrava uma faixa ou adesivo dizendo PROUD TO BE AMERICAN. A impressão que eu tinha era de que já na sala de parto recebiam um a injeção com dose extra de patriotismo. Achava e ainda acho isso lindo.
Isso é uma das coisas que deveríamos realmente copiar dos Estados Unidos.
Eu tenho meu país, minha nacionalidade, minha língua e minha família tatuados no coração. Isso não se apagará nunca!
P.S.: Acabei de fazer uma curta pesquisa sobra nossa bandeira e descobri que as estrelas dispostas representando cada estado retratam a disposição das estrelas no céu, vista do Rio de Janeiro, no dia da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. Também li que essa mesma disposição se repete todos os anos, com uma pequena alteração de tempo. Interessante, né?

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