sábado, maio 02, 2009

Sweet Suellen

Conheci uma menina chamada Suellen há algum tempo atrás. Não há muito tempo, mas o suficiente para tê-la como uma das alunas mais marcantes que já tive. Algumas pessoas simplesmente aparecem na vida de alguns para torná-la mais leve. Não levando em conta o esforço e desempenho dessa criaturinha de olhos gigantescamente azuis, ela cativa por ser ela mesma. Lembro-me muito bem da primeira aula que tivemos, na qual ela, com aqueles cilhos compridos e um largo sorriso, disse que achava sem graça meninas andarem maquiadas. Me senti um pouco contrariada, pois faço o possível para manter o hábito de usar alguma maquiagem que alivie a expressão cansada das poucas horas de sono das quais desfruto, mas entendi sua opinião. Uma menina de 14 anos, com toda aquela vida transbordando em tudo que falava, não tinha mesmo motivos para ter opinião diferente. No entanto, Sweet Suellen sentiu pela primeira vez aquela flechinha envenenada de amor que persegue os adolescentes e num lapso de identidade própria, sujou-se com dois carregados contornos de lápis preto ao redor dos olhos. Ela estava mesmo apaixonada, e como se não bastasse aquelas bolas de gude coloridas a saltar-lhe dos olhos, ela usou de um dos artifícios femininos mais injusto, para tentar chamar a atenção de sua presa. Chamo de um artifício injusto porque nos faz acreditar que podemos mesmo ser diferentes, e não somos. Prova disso é uma boa olhada no espelho após um banho relaxante. Lá estarão as rugas, as olheiras, as marcas de expressão. Elas se fazem desaparecer por um determinado tempo, mas não nos deixam livres. Eis que o estojo de maquiagem de Suellen se vê menos cheio, mas não a vejo mais feliz. Em vão gastou-se o pó e o lápis preto. Foram alguns momentos de ansiedade e esperança de um amor recíproco. Mal sabia ela que já se amavam ambos. E eram amigos. Companheiros. Com a água lavou-se a pintura e com o tempo, a dúvida.
Hoje, Sweet Suellen está com 17 anos e suas bolas de gude azul celeste ainda brilham tanto quanto seu sorriso. Já não se pinta, nem confunde amigos com amantes. Continua, porém, a mesma criaturinha rara e amável, que pensa ser uma criaturinha comum.

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