domingo, julho 22, 2007

Compartilhando

O que exatamente se entende do que se ouve e o que se ouve do que se entende. Em que se baseia uma comunicação. Um olhar. Um sorriso. Uma palavra. Um gesto. Um tom de voz. O que realmente se quer dizer é o que nossas bocas murmuram, para que não seja ouvido. Aquilo que se quer dizer de todo o coração é o que na maioria das vezes não é dito, mas sentido.

Lágrimas correm pelos olhos e dos olhos, ofegantes, sem dizer por que vieram ou para onde vão. Aquele sorriso trêmulo, tanto intimidado quanto intimidante, não tem muita certeza do que fazer no momento de sua estréia, então fica ali mesmo, sem um papel certo, entretendo a audiência, que deveria apenas ouvir, mas que vê, que fita os personagens nos olhos e aguarda inquieta por uma ação, um gesto de bravura e coragem. Uma palavra confusa e cambaleante que sai arrastando os pensamentos pelos cabelos, sem dar-lhes ao menos tempo para que se organizem.

Uma orquestra que toca sem um maestro uma sinfonia singularmente inédita, uma melodia de se guardar na memória mas jamais de se transformar em partitura, para que continue sendo única, inigualável.

Comunicar-se é fazer teatro, escolher um palco sem cobrar ingressos e atuar como nunca. Perceber a platéia vibrar a cada minuto. Usar umas palavras ou outras quando preciso, mas quase nunca é. Comunicar-se em palavras é como assistir a filmes dublados: percebe-se a história, entende-se, mas não se compreende, porque não cabe na palavra o que se sente. O que se sente flui nas veias e só jorrando sangue para todos os lados seria possível contaminar a todos.

Compartilharíamos, assim, tudo. Mas em palavras, dividimos apenas, não compartilhamos.

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