segunda-feira, setembro 11, 2006

O muro que não terminei

Um dia eu fiz planos de construir um muro muito alto ao redor do meu mundo, com uma abertura enorme para que todos os meus amigos pudessem me visitar.

Estudei mentalmente durante todos esses anos, como e quando exatamente eu iniciaria a construção.

Aos poucos fui juntando a areia que precisaria, grão por grão, a cada dia que passava.

Também reservei os sacos de cimento em um canto qualquer.

Por fim, acomodei os tijolos todos onde couberam.

Vi meu terreno repleto desses materiais e continuei imaginando aquele muro depois de pronto. Eu o pintaria de verde claro para que servisse de fundo às flores.

Nas laterais da entrada, eu faria canteiros de hortênsias azuis e nos cantos do muro eu plantaria três-marias rosa-choque. Depois de certo cuidado, meu muro atrairia quem quer que fosse por sua beleza.

Pelo meu mundo afora, eu combinaria orquídeas, amores-perfeitos, petúnias e papoulas. Talvez algumas margaridas.

Meu mundo seria delimitado por um muro de uma entrada convidativa: flores, cores e perfumes.

Assim eu segui sonhando e fazendo planos ao longo de meu caminho.

Agora eu já dispunha de todo o material necessário, bastava fazer uma lista de pessoas e convidar a todos para um mutirão.

Foi o que fiz.

Cada um de meus amigos teve sua contribuição nesse trabalho que ao mesmo tempo tão simples, parecia tão complexo.

Cada um com um mínimo de esforço me ajudou a colocar um tijolo no lugar, enquanto outros carregavam as pedras, enquanto outros buscavam a areia, enquanto outros preparavam a massa.

Um sonho estava, de fato, sendo concretizado.

Eis que agora estamos na última fileira de tijolos a ser colocada e um pequeno descuido pode pôr todo o trabalho a perder.

Em anos de planejamento, não medi esforços, não poupei suor nem pensamento. Estive presente o tempo todo, embora certas vezes demonstrasse estar ausente por precisar de medidas minuciosamente calculadas, para que nada desse errado.

Na fase final, porém, vejo o último tijolo ali e pondero se realmente irá me fazer falta.

Concluo que sim.

Ao que tomo a decisão, os tijolos parecem se soltar, um a um…

Um comentário:

Anônimo disse...

Você deve ser bem bonita, assim como suas flores. Só não entendo o porquê de enfeitar o muro que nos separa...