sexta-feira, julho 21, 2006

Muita estrela, pouca constelação

Nem sempre é fácil aceitar a realidade como ela é.

Quando eu tinha mais ou menos uns dez anos, eu vivia lendo revistinhas de música com cifras para violão. Meu irmão tentava tocar e eu sempre decorando as músicas, com essa minha mesma voz desafinada. Um dia eu estava lendo uma música, que tenho a vaga lembrança de ser do Raul Seixas, que tinha o seguinte título: "Muita estrela, pouca constelação". Incrível como isso me marcou. Eu era tão criança ainda, e no entanto, quando minha irmã mais velha me questionou sobre o que eu pensava do título, eu respondi com a mais absoluta certeza de que ele retratava as pessoas no mundo e seus relacionamentos amorosos.

Hoje eu sou uma estrela. Ali, brilhando, às vezes um pouco ofuscada por alguns acontecimentos, mas ainda ali, infinitamente sozinha.

Só quem sente e conhece a solidão de perto para entender o que eu digo.

Tenho uma família linda que eu amo, amigos que me são muito importantes, minhas pequenas conquistas diárias, mas eu sinto um vazio imenso. Por várias vezes já me questionei sobre minha existência. Quase sempre penso na mesma resposta.

O fato é que pensar na solidão me apavora, me arrepia a alma.

Do alto de meus 26 anos e considerando que tive um relacionamento único que durou 9 anos, acho que namorei bastante. Nunca fui aquela menina que simplesmente gostou de sair com alguém e depois esquecer, sempre preferi ter alguém de fato. Diferente do julgamento que as pessoas fazem de mim. Por isso, quando vejo na rua casais apaixonados me dá aquele nó na garganta, porque eu não tenho alguém assim, porque faz muito tempo que não me apaixono assim. De todos que namorei, foram dois os que me fizeram esquecer do mundo. Um até já casou, tem uma esposa linda, um filho que tem um dos nomes que eu sempre quis dar ao meu próprio filho e eu vou eternamente sentir um carinho especial por ele, que foi muito importante para mim. O outro, é aquele que foi para longe. Hoje recebi um e-mail dele, contando as novidades e frustrações. Aproveitou para salientar o quanto gosta de sua atual namorada e reclamar de sua carência por ela não estar junto. E eu fico aqui pensando que até ele conseguiu alguém para amar e ser amado, e eu não.

O que falta em mim?
O que tem de errado comigo?

Eu não entendo porque algumas pessoas são privadas do que mais querem na vida, quando isso é supostamente algo tão simples. Me faz lembrar das inúmeras vezes que recorri ao médico para saber se minha situação de saúde era normal o suficiente para que eu pudesse ter filhos. Nunca soube a resposta. Sofro por isso. Sofro por não ter quem me ame e a quem amar, e por não ter meus filhos e nem saber se um dia eu os terei.

As consultas que fiz nos Estados Unidos foram incontáveis. Eu geralmente tirava o resto do dia para chorar. Ficava na ante-sala, aguardando o médico, olhando aquelas fotos de mães com seus recém-nascidos filhos e me debulhava em lágrimas.

Hoje completa uma semana que meu rolinho de Floripa me mandou catar coquinhos. Desde então estou quase sem voz, e até hoje eu acreditava que isso era decorrente da pintura do apartamento, mas passei a achar que é meu sistema nervoso. Lembrei que já fiquei quatro dias sem voz nenhuma por causa de uma briga. Acho que é uma prevenção para que eu não fale nada que machuque, pois do jeito que eu me sinto, certamente iria machucar alguns com minhas palavras, embora todos saiam machucados, de uma forma ou de outra.

Engraçado como todo mundo sempre julga todo mundo. A maioria dos que não me conhecem, fazem uma idéia de uma Líliam totalmente diferente. Alguns acham que sou sem-vergonha, baladeira, namoradeira, atirada... Nossa, foi tanto o que já ouvi que jamais conseguiria lembrar da lista completa. Poucos, porém, me conhecem de verdade e percebem como no fundo eu sou uma pessoa legal. Tímida, a princípio, mas que adora uma malícia. Desorganizada, mas que geralmente sabe onde encontrar o que precisa. Fiel, apesar de toda a maquiagem e roupas que às vezes me colocam numa situação de "caça". Quando me perguntam o que eu faço nos fins-de-semana e eu respondo que visito minha mãe, lavo e passo roupa, cozinho, faço bordado, tricô, crochê, monto bijuterias e só, as pessoas pouco acreditam. As que acreditam dizem que eu sou chata, pois pessoa divertida sempre está entre outras...

Talvez eu soubesse como viver a vida da maneira que a maioria vive se eu tivesse tido a liberdade de fazer isso quando eu queria. Mas começar uma vida social aos 24, quando nunca se teve uma, é algo bem difícil.

Vivi tudo no tempo errado. Começando pela infância que foi na verdade, a adolescência dos meus irmãos. A minha adolescência se resumiu em um muro de escola, as paredes do meu quarto e muito choro.

E minha vida adulta tem sido imaginar o futuro do jeito que minha vida sempre foi, em preto e branco.

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