Rua Nereu Ramos, centro, Blumenau/SC.
Este foi meu segundo endereço nessa cidade, quando mudamos de Foz do Iguaçú, em 1987. A casa tinha dois andares, antiga, enorme e linda. Nâo lembro de como foi feita a busca por esse lugar, mas lembro quando chegamos lá. Era tudo maravilhoso.
O segundo andar seria ocupado por uma família amiga dos meus pais. No primeiro dia, eu o Toni fizemos a maior farra! Entramos no segundo andar, que ainda não estava habitado e enchemos a banheira. A expectativa para tomar um banho de banheira pela primeira vez na vida era grande. Logo escutamos um barulho e percebemos que a família também estava ali. O plano foi por água abaixo...
A casa tinha um terreno grande e minha mãe teve muito com o que se ocupar. Todo dia eu a via capinando, ajeitando, plantando...Ela fez uma plantação de tomates junto ao muro, que nunca vi igual. Todos os dias se comia tomate naquela casa, tanto, que nem esperávamos eles ficarem maduros e ainda assim, estavam sempre deliciosos.
Meu irmão era feliz porque seu quarto ficava do lado de fora, niguém saberia se ele estava em casa ou nâo, não fosse sua pouca idade na época... Minhas irmãs usavam o quarto da frente, e eu, dividia o quarto com meus pais.
Para nossa comodidade, todos nós estudávamos no Pedro II, exceto a Rose, que já estava na faculdade. A escola ficava exatamente ao lado da casa, o que facilitava muito a minha vida na hora do recreio. Na época o muro era tão baixo que eu nem usava o portão, era só dar um pulinho e já estava em casa. Mitchia, a gata do meu irmão, costumava encontrá-lo na sala de aula.
Nossos fins-de-semana eram curtos e divertidos. A casa era grande, então fazia-se (ou tentava-se fazer) um mutirão para a limpeza. Depois a gente ia para a rua, fazer de conta que sabíamos andar de skate ou saíamos para uma caminhada na vizinhança. Ás vezes a família do segundo andar recebia visitas e então virava festa. Nossa garagem, um violão, cerveja e churrasco, para deixar completo. Músicas da idade da pedra, que acabaram por marcar a minha infância. Nâo porque eu gostasse delas, mas por terem feito parte da minha vida, me acompanham até hoje.
Após alguns meses, não me lembro exatamente quando, começou a temporada de chuvas na cidade. Essa região havia sido atingida por duas grandes enchentes, em 83 e 84. A chuva e o medo eram constantes em nossa vida diária. Fomos avisados que a casa estava a venda e que precisávamos desocupar. Mudamos. Mas todos continuamos a ser alunos do Pedro II.
Depois de algum tempo, a casa não estava lá. Foi demolida para a construção de um prédio residencial. Fiquei triste com a notícia, pois mesmo tendo sido poucos os meses em que vivi naquela casa, era um lugar que amava, admirava e onde me sentia muito bem. Tenho uma foto na frente dela, onde mostro um largo sorriso banguela e meus fios de cabelo ainda dourados de infância, que contrastavam com minha pele morena. Sim, me considero morena, apesar de não ser... Se vocês conhecessem minha família, talvez entendessem porquê.
Passei o resto da minha vida escolar sentada nas carteiras da mesma escola, rindo com os amigos, fazendo planos para o futuro, criticando e elogiando professores, comendo Roy e Biluzitos (quando estes não eram proibidos pela escola).
Hoje, 2006, quase 20 anos depois de ter morado nessa rua, decidi caminhar por ela e matar a saudade. Não tinha um lugar específico para ir, mas acabei parando na frente do que foi um dia minha casa. No fundo do terreno foi construído um edifício, que tem a frente voltada para a outra rua. Onde costumava ser a nossa entrada, existe um muro feio e depressivo, com ar de abandono. Na casa da frente, que costumávamos expiar pelo muro, também estão fazendo alterações. A escola ganhou um guarda.
E o "futuro" levou parte do meu passado. Passado que guardarei eternamente arquivado com toda a minha vida, que deixarei registrada, pouco a pouco, aqui ou lá. Não importa onde eu a deixe, contanto que a deixe em algum lugar, para que não seja levada como as folhas carregadas pelo vento. Quero que minha vida continue, mesmo quando eu não puder mais continuar.
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